O aborto legal feito por uma menina de 9 anos, que sofria abuso sexual do padrasto desde os 6, irritou profundamente as autoridades católicas de Pernambuco. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou nesta quarta-feira a mãe, os médicos e os outros envolvidos no caso. O religioso, que é integrante de uma ala conservadora da Igreja, se justificou afirmando que a prática do aborto é um crime contra a vida e que a lei dos homens não está acima das leis de Deus.A menina segue em estado de observação em uma maternidade pública da capital pernambucana. Ela, que foi internada na noite da última terça-feira, estava grávida de gêmeos. O aborto foi consumado na manhã do dia seguinte. Segundo o médico Olímpio Moraes, a menina poderia ter complicações caso a gestação não fosse interrompida.
- Se a gravidez continuasse, o dano seria pior, podendo levar a uma gravidez de alto risco. O risco existiria até de morte ou de uma sequela definitiva de não poder mais engravidar – explicou.
O médico responsável pela cirurgia argumenta que o abortamento está previsto em lei nos casos de estupro e gestação com risco de vida. O quadro clínico da menina se encaixava em ambos os casos.
- Há duas indicações legais no abortamento previsto em lei, que é o estupro e o risco de vida. Ela está incluída nos dois e, como médico, a gente não pode deixar que uma menina de 9 anos seja submetida a sofrimento e até pagar com a própria vida – afirma.
A reação da Igreja foi praticamente instantânea. Dom José Cardoso Sobrinho disse que a Igreja Católica considera que houve um crime e um ato inaceitável para a doutrina. E sentenciou: todas as pessoas que participaram do aborto, com exceção da criança, foram oficialmente excomungadas.
- Para incorrer nessa penalidade eclesiástica, é preciso maioridade. A Igreja, então, é muito benévola, quer dizer, sobretudo, com as pessoas de menor. Agora os adultos, quem aprovou, quem realizou esse abordo, incorreu na excomunhão. A Igreja não costuma comunicar isso. Agora, a gente espera que essa pessoa, em momentos de reflexão, não espere a hora da morte para se arrepender - afirma.
A decisão do arcebispo, porém, é contrária às opiniões de várias entidades de defesa da mulher, da criança e do adolescente. De acordo com uma das educadoras do SOS Corpo, Carla Batista, não houve infração alguma no caso do aborto legal da menina. Além disso, ela diz que a vida da mulher geralmente não é considerada pelas instituições.
- Há organizações que não levam em consideração a vida dessa menina em um momento como esse e fazem um enorme desserviço em criar uma polêmica em torno de um caso que está garantido por lei e que há uma decisão da responsável pela menor no sentido de encaminhar dessa forma como está sendo encaminhado – disse.
Já o teólogo e ex-professor da PUC-SP João Batistiole avalia que a Igreja Católica pode perder credibilidade ante os seus fiéis.
- É uma posição dura, difícil de entender, uma posição institucional. A Igreja perde um pouco da credibilidade perante seus fieis – analisa.
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Editoria: Brasil
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