quinta-feira, 2 de abril de 2009

Crise no Senado: Cortes de diretores e reforma administrativa são anunciados

Por: Priscilla Sousa (Brasil)

O Senado confirmou nesta quinta-feira (18/03) a instauração de uma auditoria interna para reduzir pela metade as 181 diretorias divulgadas em levantamento. Após o anúncio oficial dos números, o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), requereu a imediata exoneração de 50 diretores.


As demais medidas confirmadas foram a contratação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para realizar uma auditoria administrativa, no prazo de 30 dias, iniciados a partir do dia 26 de março, e a devolução de carros oficiais que estavam disponíveis a alguns senadores. O presidente da FGV, Carlos Leal, asseverou que a “vontade política” é o principal instrumento para que haja a verdadeira reforma e limpeza que a Casa tanto necessita.

– A Fundação Getúlio Vargas está sendo convidada para uma reestruturação profunda. Dependemos de vontade política para a sua implementação – afirmou Leal.

De acordo com Fortes, a Casa substituirá 60 funcionários terceirizados por aprovados em concursos públicos. O democrata informou também que cerca de dez servidores já foram afastados por terem parentesco com diretores do Senado.
– Estamos convocando 30 concursados amanhã e 30 na próxima semana. Vamos começar pela área de comunicação social, até por sugestão do diretor-geral da Casa – informou Fortes.

Após mais este escândalo institucional, o primeiro-secretário, que é responsável pela administração da Casa, revelou ainda que o Senado irá reduzir, no mínimo, R$ 50 milhões de suas despesas. Ele explicou que o orçamento do Senado chega a R$ 2,7 bilhões, mas cerca de R$ 2,2 bilhões são voltados para o pagamento de funcionários, ativos e inativos. E são dos R$ 600 milhões que sobram, que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), estipulou como meta, economizar os referidos R$ 50 milhões. Entretanto, Fortes acredita que seja possível diminuir ainda mais os gastos.

Sarney determinou na terça-feira (16/03), dois dias antes da auditoria, que todos os diretores colocassem seus cargos à disposição e exonerou metade deles. Ele prometeu ainda que irá desenvolver uma “reestruturação profunda na administração da Casa” (Leia aqui) a fim de solucionar à contento estes problemas.

– Os problemas caíram no meu colo (...), tive que demitir diretores, afastei bancos agiotas, reduzi em 10% os gastos, chamei a Fundação Getúlio Vargas para fazer uma reforma administrativa que reduzirá custos e aumentará a eficiência – disse José Sarney.

O peemedebista assegurou que somente manterá nas funções os que merecerem os tais cargos de comando na instituição. De acordo com ele, o objetivo do Senado é fazer nomeações graças ao mérito dos diretores.

Entre os cortes estão cargos no mínimo inusitados. Como por exemplo, o diretor de Coordenação Administrativa de Residências Oficiais (Coaro), Elias Lyra Brandão, conhecido como “diretor de garagem”, o diretor de Coordenação de Apoio Aeroportuário (Coapae), Francisco Carlos Melo Farias, ou melhor, “diretor de check in”. Já o ex-subsecretário de Elaboração de Autógrafos e Redação Oficial (SSEAUT), Francisco Guilherme Thees Ribeiro, teve mais sorte e não perdeu o emprego, retornou para sua antiga função como analista legislativo e, apesar de trabalhar durante 35 anos no serviço público do Senado, afirmou ter ficado surpreso, assim como outros funcionários, sobre a divulgação do impressionante número de diretorias da Casa.

Na opinião do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) a crise estrutural e administrativa do Senado deve ser vista como uma ocasião propícia para estudar e resolver questões cobradas a muito tempo pela população.

– Os líderes apoiaram a Mesa. É preciso encaminhar mais medidas, cortar custos, fazer economia. A sociedade está cobrando isso, e isso deve ser feito imediatamente – pondera Renan.

O senador alagoano frisou que apesar de se tratar de um assunto sério e urgente, a crise na instituição deve ser rapidamente superada com o objetivo de que os serviços da Casa voltem a ser analisados em ritmo normal o quanto antes.


Correção

Após divulgação, o Senado voltou atrás e retificou o número de diretorias. Segundo o diretor-geral da Casa, Alexandre Gazineo, apenas 38 dos 181 diretores exerciam efetivamente o posto de direção. Os demais apenas chefiavam secretarias e coordenações e por esta razão recebiam o “título”. No entanto, ainda de acordo com o diretor-geral, todos os 50 diretores dispensados de seus cargos eram concursados e poderão exercer, caso desejem, as mesmas funções mas sem o “status” de diretor. Veja aqui a lista completa dos diretores exonerados.

– Eles perdem o status e o dinheiro, mas podem, se quiserem, continuar a trabalhar no mesmo local – explicou Gazineo.

Para o diretor-geral, com o corte nos cargos, a Casa economizará cerca de R$ 400 mil por mês, ou seja, R$ 4,8 milhões por ano. Gazineo admitiu ainda que alguns diretores recebiam pagamentos acima do teto salarial, de R$ 12 mil para nível superior, e culpou a legislação por permitir tais incorporações de gratificações.

· Saiba +

· ENQUETE: Considerando que a política no país a muito tempo é assolada pela corrupção, nepotismo e bandalheira, você acredita que esta “reestruturação profunda na administração da Casa” citada por Sarney irá realmente ser colocada em prática? Vote aqui:

O SIM
O NÃO

· FÓRUM: Enquanto são travadas as mais variadas discussões sobre a crise no Senado, outros problemas, até agora sem solução, continuam a vagar nos “subterrâneos” da instituição. Como por exemplo, a senadora Roseana Sarney, usufruindo passagens áreas pagas pelo Senado para viajar com seus amigos, o ex-presidente da Casa Tião Viana emprestando o celular do Senado para a filha usar em seu passeio ao México, entre outras picardias. Opine: há limpeza (ou reforma administrativa) que dê jeito em toda esta sujeira em forma de corrupção que assola a Casa Federal?

Nenhum comentário: