quinta-feira, 5 de março de 2009

Arcebispo pernambucano excomunga médicos e mãe de menina que fez aborto legal

Por Hanrrikson de Andrade

O aborto legal feito por uma menina de 9 anos, que sofria abuso sexual do padrasto desde os 6, irritou profundamente as autoridades católicas de Pernambuco. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou nesta quarta-feira a mãe, os médicos e os outros envolvidos no caso. O religioso, que é integrante de uma ala conservadora da Igreja, se justificou afirmando que a prática do aborto é um crime contra a vida e que a lei dos homens não está acima das leis de Deus.

A menina segue em estado de observação em uma maternidade pública da capital pernambucana. Ela, que foi internada na noite da última terça-feira, estava grávida de gêmeos. O aborto foi consumado na manhã do dia seguinte. Segundo o médico Olímpio Moraes, a menina poderia ter complicações caso a gestação não fosse interrompida.

- Se a gravidez continuasse, o dano seria pior, podendo levar a uma gravidez de alto risco. O risco existiria até de morte ou de uma sequela definitiva de não poder mais engravidar – explicou.

O médico responsável pela cirurgia argumenta que o abortamento está previsto em lei nos casos de estupro e gestação com risco de vida. O quadro clínico da menina se encaixava em ambos os casos.

- Há duas indicações legais no abortamento previsto em lei, que é o estupro e o risco de vida. Ela está incluída nos dois e, como médico, a gente não pode deixar que uma menina de 9 anos seja submetida a sofrimento e até pagar com a própria vida – afirma.

A reação da Igreja foi praticamente instantânea. Dom José Cardoso Sobrinho disse que a Igreja Católica considera que houve um crime e um ato inaceitável para a doutrina. E sentenciou: todas as pessoas que participaram do aborto, com exceção da criança, foram oficialmente excomungadas.

- Para incorrer nessa penalidade eclesiástica, é preciso maioridade. A Igreja, então, é muito benévola, quer dizer, sobretudo, com as pessoas de menor. Agora os adultos, quem aprovou, quem realizou esse abordo, incorreu na excomunhão. A Igreja não costuma comunicar isso. Agora, a gente espera que essa pessoa, em momentos de reflexão, não espere a hora da morte para se arrepender - afirma.

A decisão do arcebispo, porém, é contrária às opiniões de várias entidades de defesa da mulher, da criança e do adolescente. De acordo com uma das educadoras do SOS Corpo, Carla Batista, não houve infração alguma no caso do aborto legal da menina. Além disso, ela diz que a vida da mulher geralmente não é considerada pelas instituições.

- Há organizações que não levam em consideração a vida dessa menina em um momento como esse e fazem um enorme desserviço em criar uma polêmica em torno de um caso que está garantido por lei e que há uma decisão da responsável pela menor no sentido de encaminhar dessa forma como está sendo encaminhado – disse.

Já o teólogo e ex-professor da PUC-SP João Batistiole avalia que a Igreja Católica pode perder credibilidade ante os seus fiéis.

- É uma posição dura, difícil de entender, uma posição institucional. A Igreja perde um pouco da credibilidade perante seus fieis – analisa.

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Editoria: Brasil

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