Por Daniel Jardim (Brasil)
Os envolvidos no aborto legal da menina de 9 anos estuprada pelo padrasto em Pernambuco, incluindo a mãe da vítima, foram excomungados pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho. O líder religioso justificou sua decisão ao afirmar que o aborto foi visto como um crime aos olhos da Igreja e completou ao dizer que a lei dos homens não está acima das leis de Deus. O caso gerou polêmica e discussão por todo o país. "A lei de Deus está acima de qualquer lei humana. Então, quando uma lei humana, quer dizer, uma lei promulgada pelos legisladores humanos, é contrária à lei de Deus, essa lei humana não tem nenhum valor", afirmou. O estuprador, porém, não foi excomungado.
Mesmo sem a aprovação da Igreja, os médicos decidiram não arriscar e seguiram com o procedimento para interromper a gravidez da menina. A saúde da gestante poderia ficar bastante comprometida se não fosse tomada esta decisão, segundo a equipe médica. De acordo com a "lei dos homens", há duas indicações em que o aborto é permitido: estupro e risco de vida. A criança de 9 anos incluía-se nas duas; este argumento foi defendido por um dos médicos responsáveis pelo caso.
A declaração do arcebispo desagradou entidades de defesa da mulher, da criança e do adolescente. Carla Batista, educadora do SOS Corpo, critica o fato de a Igreja ter ido de encontro a uma medida legal, criando uma polêmica sem levar em consideração a vida da menina. Segundo Batista, o apoio da responsável pela menor reforça ainda mais a idéia de que a decisão da equipe médica foi acertada. João Batistiole, teólogo e ex-professor da PUC, comentou que atitudes como essa fazem a Igreja católica perder cada vez mais fiéis.
O arcebispo disse que não vai excomungar a jovem, pois ela é menor de idade. Ele afirma que, segundo as leis da Igreja, é preciso ser maior para ser penalizado. "Para incorrer nessa penalidade eclesiástica, é preciso maioridade. A Igreja, então, é muito benévola, quer dizer, sobretudo, com as pessoas de menor. Agora os adultos, quem aprovou, quem realizou esse aborto, incorreu na excomunhão. A Igreja não costuma comunicar isso. Agora, a gente espera que essa pessoa, em momentos de reflexão, não espere a hora da morte para se arrepender", disse dom José.
A menina segue internada em uma maternidade pública no Recife. "Se a gravidez continuasse, o dano seria pior, podendo levar a uma gravidez de alto risco. O risco existiria até de morte ou de uma sequela definitiva de não poder mais engravidar", afirmou o médico Olímpio Moraes, um dos responsáveis pelo aborto.
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Um comentário:
Todos os links certinhos e gostei muito da questão proposta no fórum!
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