Por: Daniel Jardim (Opinião)
O sistema de cotas pode ser visto, de forma geral, por dois pontos de vista. O primeiro abraça a idéia original do projeto; consiste em acreditar no propósito quase poético e indubitavelmente justo da lei que garante vagas em universidades para pessoas carentes. O segundo acusa o sistema de ser hipócrita e ineficiente, além de afirmar que a lei, inclusive, aumenta o preconceito.
Este duelo de opiniões ganhou mais força na última segunda-feira (25), após liminar apresentada pelo deputado Flávio Bolsonaro (PP) que suspendeu a Lei estadual 5.346 – a que garante as cotas.
Analisando os argumentos dos que apóiam a lei, percebe-se que eles têm como base principal a desqualificação do ensino oferecido por escolas públicas. Obviamente, esta posição traz consigo um discurso (correto, por sinal) de que a desigualdade social é uma das maiores feridas da sociedade brasileira e que precisa ser corrigida. Afinal, para entrar numa universidade estadual ou federal, geralmente é necessário investimento financeiro em cursos ou em uma educação eficiente. Como o governo não consegue prover esta educação de forma eficaz, logo, torna-se indispensável reservar um espaço para os que não puderam pagar escolas particulares.
Entretanto, os que são a favor da suspensão da lei afirmam que o sistema de cotas é um atestado de ineficiência e incompetência por parte do governo. Eles dizem que todos têm de ter os mesmos direitos, e que a lei não atinge seu objetivo de reduzir a desigualdade no âmbito acadêmico; pelo contrário, eles a consideram um privilégio que favorece determinadas raças, o que vai de encontro aos princípios de chances iguais para todos.
É complicado tocar neste assunto, pois cada argumento soa bastante convincente, apesar de serem totalmente distintos. Porém, os que são contra a lei de cotas devem levar em conta que o sistema educacional público é, de fato, falho. Os estudantes que não têm condição de ter acesso a um ensino pago (que, apesar de raríssimas instituições, é realmente melhor do que o fornecido pelo governo) antes da época de prestarem o primeiro vestibular podem ter a oportunidade de ingressar mais facilmente em universidades estaduais e federais – estas sim dignas de elogios à qualidade de ensino. Esta facilidade com certeza não finda a desigualdade de classes, mas compensa um pouco a falta de oportunidades que estudantes mais carentes encontram ao longo da vida escolar.
A universidade é garantia de um futuro melhor
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