quinta-feira, 18 de junho de 2009

Meia-entrada: crise ética

Por: Zani Matos (Opinião)

A lei de autoria do então deputado Carlos Minc (PT-RJ), que no começo previa, a venda de meia-entrada por casas de espetáculo, cinemas, estádios esportivos, como o Maracanã, exclusivamente a estudantes, que apresentassem carteirinha da UNE (União Nacional dos Estudantes) ou da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Foi reformulada pelo próprio Minc, através da Lei 4816/06, que estabelece que devem ser aceitas as carteiras expedidas por colégios, escolas e universidades, desde que contenham o nome do aluno, sua fotografia, o ano letivo impresso e o carimbo do estabelecimento de ensino.
Em 2006, a UNE (União Nacional dos Estudantes) já admitia em manifesto que o número de carteirinhas emitidas para alunos de curso superior era maior que o número de estudantes matriculados nas universidades de todo o país.
Por outro lado, a classe artística e empresária do setor denuncia esvaziamento das platéias e bilheterias que chegam a 80% de meia-entrada. O preço dos ingressos dobraram. Logo, os 20% que pagam inteiras levam a pior. O ator e comediante Marcelo Médici, confirma sem constrangimentos:
“Hoje existe a falsa meia-entrada porque o preço é de ingresso cheio”.
A polêmica atual gira em torno da regulamentação da meia-entrada. Projeto de revisão da Medida Provisória, proposta por Eduardo Paes (PMDB-RJ), atual Prefeito do Rio de Janeiro. Existe consenso sobre a regulamentação, porém estudantes, classe artística e entidades divergem sobre controle e fiscalização. Lucia Stumpf, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) acha que a solução é a regulamentação das carteirinhas para acabar com os documentos falsos. Reconhece: “Desde 2001, perdeu-se o controle da emissão das carteiras. Não concordamos com a cota porque isso é limitar o direito conquistado pelos estudantes. Veem dificuldade na fiscalização que comprove a venda da totalidade da cota de meia-entrada”.
Já o presidente da Feneec (Federação Nacional das Empresas Exibidoras de Cinema), Ricardo Defini, briga pela cota de 40% de meia-entrada. Ele afirma que só a regulamentação não é suficiente para baratear o preço dos ingressos e fazer com que mais pessoas frequentem cinema e teatro."Tenho convicção de que é preciso um limitador para meias-entradas. Estamos perdendo público ano a ano porque o valor da entrada inteira é alto. E isso por quê? O preço é maior para compensar a quantidade de meias-entradas. "Entidades e classe artística puseram no ar um site que defende a regulamentação. (Conheça o site)
Diante disso tudo o que me resta... Vejo velhinhos bem vestidos, que almoçam nos restaurantes caros no shopping em trabalho que pagam meia-entrada. Leio na folha online que os ingressos para o show do Oásis para a pista VIP custavam: R$ 180,00 (pista) e R$ (400,00) pista-VIP “Os de meia-entrada para a pista VIP”, esgotaram rapidamente. Vejo alunos de cursos de pós-graduação de instituições, reconhecidamente, caras, pagarem meia-entrada no cinema...
A atriz, Fernanda Torres, conta que na peça “A Casa dos Budas Ditosos” se apresentou para platéias, de meia idade, onde 80% pagaram meia-entrada. Seriam estudantes que não poderiam pagar inteiras?... Uma amiga dela pagou R$ 30,00 por uma carteirinha de estudante numa pizzaria?...
A lei não cumpri ao seu objetivo que seria estimular e permitir acesso aos bens culturais aos que não poderiam pagar. Os estudantes cuja formação cultural é fundamental para o seu desenvolvimento intelectual pleno, não são os maiores beneficiados. Existe uma crise ética séria que abrange toda a sociedade. Aos que defendem os subsídios? Desculpem, não acham que já pagamos subsídios demais? Basta de auxílios moradia, passagem aéreas, auxílio vestuário para parlamentares!
Deixo aqui, um exemplo que deve ser conhecido por todos. A comemoração do Dia da Baixada Fluminense incluiu na programação, o projeto da atriz Fernanda Montenegro. O espetáculo “Viver sem tempos mortos”, levou o universo de Simone Beauvoir a São João de Meriti. Para muitos, essa foi a sua primeira apresentação de teatro. “Gente que nunca tinha visto um palco”, conta Fernanda. Esse público teve a oportunidade de ver fotos e objetos, assistir a filmes e trocar ideias com a atriz, sobre a vida e obra da pensadora francesa . Acredito nessa forma de acesso à cultura.

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podem pagar?
( ) Sim, os estudantes e idosos menos favorecidos são os que mais aproveitam os
benefícios da lei.
( ) Não, a lei beneficia os que já possuem recursos e acesso à cultura.

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