quinta-feira, 18 de junho de 2009

Quanto vale o show?


Por: Daniel Jardim (Opinião)

A cultura no Brasil pode ser vista por vários lados, mas dois deles destacam-se. O primeiro ponto a ser exposto é a riqueza do conteúdo cultural produzido no país: música, artes cênicas, espetáculos de dança – atividades artísticas de qualidade recheiam de som e cor a terra brasileira; sendo valorizados, inclusive, em várias nações por todo o globo. Já o outro lado da moeda diz respeito à distribuição e às políticas de cultura em geral.

Assim como praticamente todos os aspectos referentes a políticas públicas, a desigualdade também é marcante ao tratar-se de atividades culturais. Muitas cidades não possuem um palco sequer para que artistas possam demonstrar seus talentos; cinema, então, é raridade. Mesmo em lugares que contam com boa estrutura, como capitais, o acesso a espetáculos, filmes e shows é um privilégio para poucos, devido ao preço alto cobrado pelos ingressos.

Neste contexto, criou-se a Lei de Meia-Entrada para estudantes, em 1996, visando integrar pelo menos esta classe no circuito cultural de suas cidades. A iniciativa, de fato, incentivou alunos a comprarem mais ingressos para concertos, filmes e afins. Porém, foi um golpe bruto sentido nos bolsos de produtores culturais. A solução encontrada por estes empresários foi, então, gradualmente aumentar o valor dos espetáculos até que a “meia-entrada” custasse o mesmo que a ultrapassada entrada inteira. Agora, o ingresso havia dobrado de preço.

O cenário abriu espaço para o já conhecido “jeitinho brasileiro”. Pessoas que se recusam a pagar duas vezes o valor de um show ou cinema buscaram maneiras de burlar a lei, utilizando carteirinhas estudantis falsificadas para desembolsarem apenas metade do valor que pagariam caso não recorressem a este recurso ilegal. Um otimista pensaria que foi unicamente o teor fora-da-lei desta prática que levou o senador Eduardo Azeredo (PSDB - MG) a apresentar um projeto que proíbe a meia-entrada de quinta-feira a domingo, e também nos feriados; mas seria de uma ingenuidade digna de um “Ursinho Carinhoso” ou um “Smurf” acreditar que não há nesta proposta o interesse de muitos produtores culturais. Afinal, mais da metade dos ingressos acaba saindo por metade do preço devido a carteirinhas de estudante (sendo falsas ou não, este é o problema argumentado).

Tudo isto faz parte de uma triste realidade, onde os verdadeiros prejudicados são os artistas e o povo para o qual eles querem mostrar seu trabalho. Afinal, todos os intermediários (como produtores e exibidores) entre estes dois pólos acabaram beneficiando-se com este aumento indiscriminado no preço do ingresso, além de receberem o incentivo da Lei Rouanet por implementarem a meia-entrada em seus estabelecimentos. O pior é ver que, não satisfeitos, eles querem (ou não se preocupam em) aumentar ainda mais este abismo entre a cultura e a população.

Saiba mais:

Projeto de leis que fixa cotas para meia-entrada está na Câmara
Você é a favor da meia-entrada? Vote aqui:

( ) Sim. Pois dessa forma o acesso a espetáculos, filmes e outras atividades artísticas se torna mais viável;

( ) Não. Acredito que com o fim da meia-entrada os preços cairão .

Como as políticas públicas voltadas para a cultura poderiam ser mais eficientes? Opine aqui

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